Com uma política flexível às ambições do mercado de fórmulas infantis, a China registra um dos piores indicadores no mundo quando o assunto é aleitamento materno – tendo apenas um em cada cinco bebês amamentados exclusivamente durante os primeiros seis meses de vida, como recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A realidade de pouco incentivo à amamentação, verificada pelo Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef – sigla em inglês), acenderam o alerta entre profissionais de saúde brasileiros para ampliar as ações em defesa do contato genuíno entre mãe e filho, reforçando os benefícios nutritivos e afetivos.
Na China, a baixa performance nos registros de aleitamento materno contrasta com o crescimento de um segmento bilionário das fórmulas, que fez até as autoridades chinesas abandonarem diretrizes que regulavam a comercialização de produtos que se propõem a substituir o leite materno.
“Isso mostra como o poder da propaganda da indústria é desastrosa para o descrédito das mulheres do seu poder de amamentar. Imprimem uma insegurança na sua capacidade de produção do seu próprio leite e a falsa informação de que os leites modificados são iguais ao leite materno. Isso é um absurdo. Na verdade, são produtos ultra processados com alto teor de açúcares contribuindo para a obesidade infantil”, alerta a presidente da Sociedade Baiana de Pediatria, a pediatra Dolores Fernandez.
As condições observadas na nação chinesa também pouco engajamento de profissionais de saúde com a amamentação. Segundo a Unicef, apenas 12% dos bebês chineses nascem em hospitais onde os funcionários têm conhecimento sobre lactação.
“Por isso é necessário ficarmos vigilantes, lutarmos para que a lei nacional de proteção à amamentação não seja letra morta. A salvaguarda das leis é a cidadania atuante, as Organizações como a Ibfan (sigla em inglês para Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar) e ativistas que defendem a amamentação, estão sempre alertas chamando a atenção das infrações que são cometidas contra a lei”, acrescenta a pediatra Dolores Fernandez.
Outras considerações sobre as dificuldades do país oriental no fomento ao Aleitamento Materno estão dispostas no artigo “Anúncios falsos e conselhos ruins afastam as mães da China da amamentação”, disponível abaixo para a leitura.
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Anúncios falsos e conselhos ruins afastam as mães da China da amamentação
A promoção agressiva e não regulamentada do leite em pó, aconselhamento médico precário, licença-maternidade curta e locais de trabalho hostis às mães que amamentam significam que a China tem uma das taxas de amamentação mais baixas do mundo e está muito aquém de suas próprias metas, alertam os especialistas.
Apenas um em cada cinco bebês do país é amamentado exclusivamente durante os primeiros seis meses de vida, recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso é menos da metade da média global, de acordo com o cartão de pontuação da amamentação do UNICEF de 2019, e muito abaixo da meta do governo chinês de ter 50% das mães amamentando até este ano.
As autoridades estão agora lançando um esforço para promover a prática, incluindo a construção de mais salas de cuidados infantis em locais públicos, como parques e estações ferroviárias, e ensinando médicos e enfermeiras sobre os benefícios da amamentação - mas especialistas e mães dizem que isso não é suficiente.
Mary Zhang parou de amamentar depois de um mês. Ela desenvolveu mastite - uma inflamação dolorosa da mama que pode causar febre, infecção e, em alguns casos, hospitalização - mas os médicos deram-lhe informações imprecisas sobre como tratá-la, deixando-a em agonia e lutando para alimentar seu filho.
"Nada funcionou. Eu estava com dor e meu bebê estava chorando", lembra Zhang.
Ela acrescenta: "Então minha mãe começou a dar fórmula. Depois que o bebê se acostumou com a mamadeira, ele se recusou a pegar o seio. Eu não conseguia amamentar".
Apenas 12 por cento dos bebês na China nascem em hospitais onde os funcionários têm conhecimento sobre lactação, de acordo com a UNICEF.
Mas o maior desafio vem da propaganda implacável e enganosa da fórmula, depois que o governo revogou um código de conduta, estabelecido pela OMS, que regulamenta seu marketing.
As autoridades abandonaram as diretrizes, que restringiam a comercialização de substitutos de leite e proibiam os profissionais de saúde de promovê-lo, mesmo depois que marcas que vendiam comida para bebês - incluindo a Danone - estavam oferecendo dinheiro aos médicos para promover seus produtos.
Fang Jin, secretário-geral do instituto de pesquisas apoiado pelo governo China Development Research Foundation, diz que há "intensa pressão comercial" de um poderoso lobby de fórmulas ansioso para explorar o maior mercado do mundo.
O mercado de fórmulas infantis da China foi avaliado em US $ 27 bilhões no ano passado e deve crescer 18%, para cerca de US $ 32 bilhões até 2023, de acordo com o Euromonitor.
"A fórmula infantil agora é anunciada como tendo os mesmos nutrientes do leite materno, o que é uma mentira total", acrescenta Fang.
Agora também é comercializado em hospitais e clínicas.
"A maioria das mulheres trazem latas de leite em pó quando vêm para dar à luz. Elas temem não produzir leite suficiente. É um mito propagado pelo lobby das fórmulas", explica Liu Hua, enfermeira do Hospital Obstétrico e Ginecológico de Pequim.
Mulheres grávidas raramente obtêm informações sobre amamentação durante as consultas pré-natais e recorrem a aplicativos ou sites de smartphones - muitas vezes financiados por empresas de fórmulas infantis - para obter conselhos, acrescentou ela.
Veja aqui versão original, em inglês
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