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Psiquiatra Antonio Nery aborda o porquê do uso de drogas
Publicada em 14/09/2021


 

Que motivos levam as pessoas a usarem drogas? Essa foi umas das questões levantadas pelo psiquiatra Antonio Nery Filho, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia, convidado da live promovida na noite desta segunda-feira (13) pela Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), como parte da programação do mês do adolescente. A conversa foi mediada pela pediatra e hebiatra Sandra Plessim e está disponível no canal makadu.live/sobape ou pelo link: Assista aqui

Na live, o psiquiatra diplomado há 52 anos convida os pediatras a uma maior reflexão sobre o que pode ser feito para acolher os jovens e as famílias, ampliando o olhar para identificar o que está por trás das drogas. Ele também alertou sobre a “medicalização” da sociedade através das drogas lícitas e disse que é preciso formar médicos para curar pessoas e não apenas prescritores para acabar com doenças. O especialista reafirmou o papel do pediatra na vida de crianças e adolescentes e de suas famílias durante a travessia de fases que geram sofrimento, o que requer tempo, generosidade e acolhimento.

O fundador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (Cetad), vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Fameb/Ufba) disse que circula uma ideia simplista de que a droga é “um grande mal”, mas é preciso perguntar por que adolescentes jovens, adultos e até pessoas idosas usam drogas. “Durante muitos anos, se propôs que os trabalhos fossem voltados para a eliminação das drogas nas sociedades. O que é uma bobagem”, pontua ele, fazendo uma retrospectiva do que chama de “guerra às drogas”, iniciada nos anos de 1920/1030 nos Estados Unidos.

Nery explica que, nos anos 60 e 70, os americanos do norte intensificam a proposta de eliminar a droga do mundo como se essa fosse a razão dos golpes de estado na América Latina, da causa dos desastres econômicos que o mundo experimentou, da violência, dos crimes, dos diversos delitos.

“Não é exatamente assim e esse reforço da proibição elevou o preço da cocaína, aumentando imensamente o lucro dos traficantes, que nunca quiseram falar em legalização da produção, comércio e uso”, pontua, destacando que esse comércio ilícito movimenta cerca de 500 bilhões de dólares no mundo por ano. Além de fortalecer o mercado das drogas ilícitas, Nery diz que esse movimento também fortaleceu a indústria farmacêutica das drogas lícitas.

“Caminhamos para uma sociedade medicalizada, marcada pelo elevado consumo de produtos legais, como antibióticos, corticoides e toda classe de medicamento lícitos, particularmente aqueles que suprimiam o luto e a dor. Hoje, estamos completamente destituídos da capacidade de suportar a dor, o sofrimento, o luto, de todas as perdas e dores que fazem parte da história humana”, avalia.

DARWIN

Nery ponderou que tamanha comercialização deixou nas pessoas a impressão de que a droga tinha alma e pensava. “A droga é um produto químico que não se fala, não se move. Não é a droga que importa. O que importa são os humanos e as suas dores. As drogas alteram a percepção do mundo e muito da história humana foi possível a partir desse apaziguamento que foi produzido sobre a alma e o corpo humanos”, sentencia, fazendo uma referência à metáfora da horda primitiva de Charles Darwin.

O psiquiatra busca a compreensão antropológica para o sofrimento causado no homem quando este passou a compreender a ideia da finitude. “Diante do extremo sofrimento diante da razão da existência humana, os seres não teriam sobrevivido se não descobrissem algo para apaziguar a dor. Então, esse produto psicoativo passa a ser causa de vida e não de morte. A droga tem o papel de intoxicar o organismo e produzir alterações para amenizar dores e sofrimentos”, pondera, destacando que os humanos, cada vez mais complexos, saíram da ordem socioantropológica para o uso das drogas do ponto de vista da ordem econômica.

FAMÍLIAS

Nery falou sobre sua experiência de mais de 35 anos na atuação clínica e na universidade e comentou que, ao longo dos anos, recebeu muitos adolescentes e famílias – pais, mães, avós, tios - que iam dizer que seu familiar estava usando drogas e que a droga era responsável pela infelicidade da família: “Eu sempre recusava isso e convidava as pessoas a pensarem o antes das drogas, a colocarem a droga entre parêntese para enxergar onde ela se encontrava, lembrando que o ser humano precisa atravessar pontes e que isso gera um certo sofrimento”.

O professor diz que os pediatras lidam com a ameaça de vida na primeira ponte, que é a passagem da infância para a adolescência, o que, muitas vezes, gera grande sofrimento. Os pediatras acabam sendo um pouco psicólogos e precisam cuidar também dos adultos, que vêm ameaçada a vida dos filhos, sentindo uma dor insuportável. O psiquiatra orienta que é preciso perguntar aos pais quem são seus filhos, o que eles pensam dos filhos, o que fazem por eles.

“Não vejo o uso de drogas por adolescentes como doença ou busca para morte, mas busca para solucionar alguma travessia ou dificuldade para as quais não encontram saída satisfatória. O adolescente usa droga para não morrer diante do que considera uma dor insuportável. Quando o adolescente não quer se matar, ele usa droga para apaziguar esse sofrimento e nos dá tempo para ajudar, para cuidar e para evitar a morte pelas consequências dessa droga”, alerta.

Na finalização do bate-papo, após análises do comportamento humano, do papel dos pediatras na vida dos jovens e das famílias, a atuação de pais, mães e responsáveis e os agradecimentos ao palestrante, a pediatra e hebiatra Sandra Plessim, que também é terapêutica analítica, aproveitou a dica de dr. Nery para que os pediatras façam sua avaliação enquanto profissionais e ampliou a pergunta. Ela propôs a todos a reflexão diante do espelho: “Espelho, espelho meu, que tipo de ser humano sou eu?”.

 
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