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ARTIGO: O pediatra e o atendimento do adolescente
Publicada em 04/02/2019

A adolescência corresponde a um período da vida, caracterizado pela OMS como dos 10 aos 20 anos incompletos, marcado por grandes transformações biológicas e psicossociais. Em 2002, através da Resolução 1634 do CFM, houve a definição de que a Medicina do adolescente é área de atuação da Pediatria, o que foi salvaguardado pela Portaria Federal do Ministério da Saúde nº 413, de 11 de agosto de 2005. Apesar desta regulamentação, muitos pediatras não gostam ou se sentem inseguros no atendimento destes indivíduos. A falta de capacitação profissional, inclusive nas residências de Pediatria, contribui para o atendimento inadequado, no qual, apenas se valoriza as queixas biológicas, com poucas estratégias preventivas para as causas externas, principais determinantes da mortalidade nesta faixa etária.

O modelo de atendimento do adolescente requer o respeito às peculiaridades e à singularidade de cada jovem, com o estímulo contínuo para o protagonismo juvenil, através de informações corretas, evitando-se o juízo de valor do profissional. A postura acolhedora e flexível é essencial para facilitar o papel de mediador de conflitos entre os adolescentes e suas famílias. A quebra do sigilo deve sempre ser informada ao adolescente e só é recomendada nas situações de risco à saúde ou integridade da vida para o adolescente ou terceiros.

Um ambiente menos infantilizado, a flexibilidade de horários e um profissional motivado contribuem para a acessibilidade dos jovens aos Serviços de Saúde. O conhecimento das características da morbimortalidade, com especial atenção para as causas externas, enfatiza a importância da adoção de estratégias preventivas e redução de vulnerabilidades.

A história clínica pediátrica necessita ser ampliada para o método HEADSSS (HOME, EDUCATION, ACTIVITIES, DRUGS, SEXUALITY, SUICIDE), proposto por Cohen & Goldenring, respeitando-se a oportunidade de um momento individualizado com o adolescente, além do momento com os responsáveis. O exame físico envolve a importância da presença de uma terceira pessoa (familiar ou profissional) e deve ser feito de forma completa, com avaliação da maturação sexual e exame da genitália, sempre que possível, explicando sempre ao adolescente o passo a passo para a redução dos temores e anseios.

As orientações a respeito da individualidade devem ser feitas no momento a sós com o adolescente. Atenção especial deve ser dada à saúde escolar, ao calendário vacinal, à orientação alimentar, estímulo à prática de atividade física e uso adequado de telas e fones de ouvido, bem como informações verdadeiras sobre a sexualidade responsável. O conceito de dupla proteção deve sempre ser apresentado, bem como a disponibilidade de respostas aos questionamentos dos jovens. A educação sexual representa um direito dos jovens e não deve ser negada pelos profissionais.

No Brasil, em 2015, cerca de 18% dos nascidos vivos eram filhos de mães adolescentes, o que representa uma taxa muito elevada em comparação com outros países da América Latina. A região Nordeste apresenta a maior prevalência de gestação na adolescência. Puberdade precoce, iniciação sexual precoce, baixo rendimento escolar, conflitos familiares, ausência de projeto de vida, uso de drogas, representam fatores de risco para este importante problema de saúde pública. O reconhecimento em tempo hábil destes preditores permite a adoção das estratégias de promoção de saúde e a redução das vulnerabilidades.

Em janeiro de 2019 foi instituída a política pública da Semana Nacional de Prevenção de Gravidez na Adolescência, que inclui anualmente o 1º de fevereiro, visando a disseminação de informações sobre medidas preventivas relacionadas a esta temática. Ressalta-se que a prevenção de gestação nesta fase da vida não envolve apenas falar dos métodos anticoncepcionais, mas, também, estímulo ao projeto de vida, ao lazer saudável, reflexões sobre uso de álcool e outras drogas, prevenção de violências, inclusive abuso sexual.

Desta forma o tempo urge e com a escassez de especialistas há uma necessidade premente para que os pediatras se qualifiquem e abracem esta causa. Inúmeros documentos científicos estão disponibilizados pelo Departamento de Adolescência da SBP, visando a atualização dos profissionais com temas da contemporaneidade. Lembro que 23 a 25 de maio de 2019, ocorrerá em São Paulo o 15ª Congresso Brasileiro de Adolescência; este evento poderá ser uma boa oportunidade para conhecer novos colegas e iniciar esta capacitação.

Termino este texto com uma frase bastante reflexiva do grande educador Rubem Alves: “As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos.”

Isabel Carmen Fonseca Freitas

Pediatra, especialista em Adolescência
Mestrado e Doutorado em Medicina e Saúde-PPGMS-UFBa

Professora Associada de Pediatria da FMB-UFBa e Professora Adjunta da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública

Coordenadora do Núcleo de Estudos em Medicina da Adolescência-FMB-UFBa


Referências:
1.Consulta do adolescente: abordagem clínica, orientações éticas e legais como instrumentos ao pediatra. Manual de Orientação, Departamento de Adolescência da SBP, nº 10, janeiro de 2019.

2.Prevenção de gravidez na adolescência. Guia prático de atualização. Departamento de Adolescência da SBP, nº 11, janeiro de 2019.

 
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